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sábado, 2 de março de 2013

Encontro Marcado: Drica Moraes e Mariana Lima


Encontro marcado

TEXTO Gabriela Rassy FOTO Caio Palazzo
Drica Moraes conhece Kike desde os 14 anos. Já namoraram, atuaram, fundaram juntos a Cia. dos Atores, no Rio de Janeiro, e hoje acumulam 30 anos de amizade. Mariana Lima é casada com Kike há 15 anos. Paulistana, mora com o marido e as duas filhas, Elena e Antonia, no Rio. Conheceu Drica em meados dos anos 2000 durante as apresentações do espetáculo O Rei da Vela, com a Cia. dos Atores, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em São Paulo. A partir desse ponto, as duas foram se aproximando até se tornarem amigas e, hoje, parceiras de palco. “Mariana é irresistível, é dessas pessoas que você fica amiga muito rápido.”
Liga inicial entre as duas, o ator e diretor Enrique Diaz, chamado pelos amigos de Kike, as uniu na vida e as reuniu no tablado. Em cartaz desde março de 2012, A Primeira Vista, dirigida por Diaz, foi o primeiro trabalho no qual as atrizes se viram juntas em cena. E o texto fala exatamente disto: reencontros, amizade, amor,  embranças. Quando o diretor decidiu fazer a montagem, a segunda em que se vale de um texto do canadense Daniel MacIvor, Mariana se candidatou logo de cara. O convite deles à Drica veio justo no período em que ela se recuperava de uma leucemia. “A gente achou que era um momento para estarmos juntas e fazer a nossa estreia em cena”, conta Mariana. “A peça tem muito a ver com ela, com a atriz que ela é.” Para as atrizes, a combinação entre as duas foi muito bem-vinda, pois a dramaturgia abraça personagens opostas em temperamento e personalidade, tal como elas.
Drica transitou mais vezes entre comédia e drama, entre televisão, cinema e teatro. Sabe como fazer humor de um jeito mais ligeiro, mais rápido, tem um timing maior. Ainda neste ano, ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro por seu papel coadjuvante em Bruna Surfistinha – o Filme, dirigido por Marcos Baldini. O registro de Mariana está no drama, na tragédia, nas construções mais bizarras. Na comédia, ela tende para um lado mais negro, louco, absurdo, como é o caso dos seus trabalhos com o Teatro da Vertigem e, mais recentemente, com Pterodátilos, peça do norte-americano Nick Silver e dirigida por Felipe Hirsch, que lhe rendeu o Prêmio Shell de Melhor Atriz em 2010. “Por mais que a gente componha e faça tipos, tenha códigos e estilos bem particulares, trabalhamos com verdade absoluta e isso também nos une”, diz Drica. Para a atriz, as duas articulam bem esses opostos, tirando proveito disso. “É uma situação em que o jogo cênico se estabelece muito bem, porque ela não rouba em cena. Está sempre contribuindo, jogando dentro da ação.”
Jornada dupla“Você tem filhos? Só sei que muda muito a vida, o tempo fica muito curto. Não tem essa de chopinho”, diz Drica. Mariana concorda: “O complicado é a jornada dupla, no trabalho e em casa. Ficamos com pouco tempo de descanso. A vida é outra, não dá para sair toda hora”. Realmente, com tantas atividades entre palco, ensaios e gravações para a televisão, as atrizes vivem em um esquema bastante corrido. Logo após se conhecerem, Mariana engravidou de Elena e Drica tentava fazer inseminação artificial. Depois se encheu e entrou na fila da adoção. “Tivemos sempre esse viés de falar de crianças e de começo da vida de adulta.”
Quando Drica adotou Matheus, hoje com 3 anos, Mariana já tinha duas filhas. Elas passaram então a fazer mais coisas juntas e a viver um mesmo assunto. São tantos encontros, além das viagens com a peça, que Matheus já chama Antonia de irmã. “A gente acaba pegando um pouco desse afeto para a gente”, diz Drica. Nesse embalo da maternidade, as duas trocam experiências, falam sobre criação, sobre como deixar que os filhos se virem e também como é importante um pouco de frustração diária na vida das crianças para que cresçam bem.
Nas viagens, quando possível, elas tentam conciliar as famílias. Cada vez é uma história diferente: com as crianças, com os pais, com o namorado da Drica. “Tem essas oportunidades em que eles se juntam enquanto a gente trabalha, então dá um clima Novos Baianos – ou ‘velhos baianos’, no caso”, ri Drica.
Duas palhaças
Em A Primeira Vista, a personagem de Mariana é mais etérea, desligadona, lenta e até um pouco bicho-grilo. A de Drica é pragmática, prática, racional, rápida. Esse contraponto é nítido. São dois papéis que carregam emoção, complexidade, mas que têm o timing da piada. A definição das figuras dramáticas veio num bilhete enviado pelo ator Guel Arraes, após assistir a uma apresentação: duas palhaças. Drica, a palhaça solar, e Mariana, a lunar. “Tem mesmo uma coisa do circo, de fazer ali na hora e de apresentar os truques ao público, porque não tem cenários, figurinos ou grandes mistérios”, explica Drica.
A Primeira Vista trata de um recorte de tempo entre o passado e o presente, em que as personagens reveem e revivem o período entre a juventude e a vida madura. Fala do desafio de começar algo novo, de se arriscar profissionalmente, e também sexualmente, e de tomar decisões afetivas. “Levamos para o ensaio muito da nossa memória pessoal e nos reconhecemos um pouco na estupidez que há no começar alguma coisa. Como a gente erra, se atropela, faz escolhas erradas no começo da carreira, da vida, ou como deixa de fazer o que queria ter feito”, conta Drica. A atriz acredita que o público, de um modo geral, se identifica, assim como elas, com a beleza desse momento de fragilidade que é sair da adolescência e ingressar na vida adulta.
Nessa fase de buscas e mudanças, as personagens decidem formar a banda Ukuleladies, referência ao ukulele, instrumento que tocam em cena. Uma queria, a outra acabou indo junto, e elas começaram esse projeto musical meio falido, já que não eram exatamente musicistas sensacionais. Para o diretor, isso faz parte desse limite da amizade e do amor, de fazer o que a outra quer, mesmo sem querer muito.
Para Diaz, elas acabaram naturalmente levando muito da peça para a vida pessoal. A Mariana voltou a tocar baixo, as filhas se interessaram e começaram a tocar. Até mesmo o ukulele passou a fazer parte da vida de Mariana, que vez ou outra toca o instrumento em casa. “Acho que tem um limite muito tênue entre a arte e a vida. Como nunca estamos de férias, acabamos vivendo muito aquilo que fazemos”, aponta Mariana. Já Drica namorou a música desde sempre. Fez alguns musicais, estudou piano na adolescência e o ukulele veio fazer parte desse universo musical.
A facilidade de incorporar os personagens à vida também vem do estilo de dramaturgia de Daniel MacIvor. Para Drica, ele escreve de um jeito inacabado, no qual as personagens falam pérolas de profunda sabedoria, travam um embate de ideias complexas, mas de forma fluida, quase displicente, coloquial. “A peça é muito leve. Parece que nem foi escrita para o teatro, e sim que foi improvisada”, analisa. Visualmente, é um espetáculo bastante minimalista: pouquíssimos objetos em cena, figurino composto de calça jeans e camiseta, um fundo infinito. Nada interfere no texto e no contato com o público. A direção de Enrique Diaz inclui cenas em que as duas olham nos olhos do público. “Isso gera uma atividade profunda com a plateia, que é incluída no jogo cênico. É como se eles tivessem um personagem e contracenassem com você.”
A peça foi o primeiro trabalho de Drica Moraes depois do câncer e, segundo Mariana, ela impressionantemente teve muita energia para trabalhar. O casal amigo criou as melhores condições possíveis para desenvolver os ensaios: uma boa comida e um bom ambiente, prazeroso, saudável. “Às vezes, nós nos enfiávamos num porão, não comíamos direito. Nesse caso, forçávamos a barra para ter uma pausa para um lanche, para não ser puxado demais, mas acabava que os workaholics aqui ensaiavam seis horas por dia. E ela também não arregava”, conta Mariana. “Eu falava: ‘vamos parar, tem a Drica’. Mas por ela ia embora.”
Com o trabalho acontecendo, a atriz foi ganhando tônus, agilidade, memória. Enrique Diaz conta que era um momento em que eles queriam estar próximos dela. “Foi leve, sensível. A peça teve também essa ‘função’, de nos unir mais.” Para Drica, o processo foi fundamental na sua recuperação. Com todo esse aparato afetivo de trabalhar entre amigos, ela se encontrou num lugar muito seguro, pronta para poder enlouquecer de novo. “O palco sempre tem um pouco de loucura. Uma loucura boa”, diz.

 fonte:http://177.71.181.22/materiacontinuum/encontro-marcado/

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